quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

PARIR: UMA EXPERIÊNCIA BARROCA


(Debora Regina Magalhães Diniz 25/01/2005)

(Dedico este texto a Bach, Vivaldi, Albinoni, Händel e Mozart, cujas músicas estiveram presentes durante toda a gestação e ajudaram-me nos momentos de ansiedade e angústia)

Enquanto relembrava o parto do João Felipe para escrever meu relato eu tive um insight: parir é uma experiência barroca, pelo menos para quem tem oportunidade de parir naturalmente.

O barroco é a sintaxe de elementos absolutamente diferentes colocados lado a lado, esses elementos se relacionam, se roçam eroticamente, ele vem da crise gerada não pela oposição, mas por uma nova construção. O barroco é tudo que se opõe ao mundo clássico, racional. É o sagrado dentro do profano.

Para o barroco sempre é possível agregar algo a mais àquilo que já existe, é a sensação de desperdício de forma, por isso o barroco é fundamentalmente erótico já que não economiza gestos.

O meu parto foi totalmente barroco, gritei o quanto quis, xinguei o quanto quis, fiz drama, achei graça e ri de mim mesma. É a fusão do divino com o erótico. Como coloquei no meu relato, eu iniciei o trabalho de parto com expressões religiosas: “Ai, meu Deus”, “Ai, Jesus”, “Ai, Nossa Senhora”, para logo em seguida utilizar palavras de denotação sexual “cara**”, “porra”, “cacete”, “p*q*p*”. Ora, e não é assim que também nos comportamos durante o ato sexual? Parir é uma experiência altamente erótica e sagrada.

Eu sou latina, venho de uma cultura mestiça, a América Latina é barroca em sua formação antropológica, andarilha e migrante.

Não é a toa que devemos re-aprender a parir com os índios, não é a toa que o vídeo da parteira mexicana, Naoli Vinaver, mexe tão profundamente conosco.

O rigor e a poupança é a base do mundo capitalista e tecnocrata. O barroco não se preocupa em poupar, ele extravasa tudo isso.

Que a sociedade capitalista espera das mulheres? Que elas sejam bem comportadas até quando estão parindo. Por isso deitam-nas, anestesiam-nas, amarram-nas e cortam-nas.

Eu sou completamente exagerada, sou livre, gosto dos excessos. O excesso é erótico já que é o contato dos cinco sentidos com o mundo.

Quem perde o contato com o mundo externo, com o barroco, é infeliz sem saber por que.


É com este texto maravilhoso que Vos deixo hoje, o artigo de hoje foi elaborado pela Débora, para quem não teve oportunidade de ver o video de um dos nascimento do Filho da Débora e do Milagre que é a Vida , por favor veja, a Débora é uma DEusa e como tal é uma mulher com uma energia muito boa e mágica que tivemos o prazer de através deste mundo virtual a oportunidade de conhecer e de com ela e com Vocês poder partilhar as suas experiências assim esta semana será dedicada a ela e aos seus artigos que espero que sejam os primeiros de muito viu Débora convite tá lançado ....

Bem Um ótimo dia a todos
MUita Paz Amor e Luz

Ana

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