sábado, 26 de janeiro de 2008

Cuide do que come cuide de SI


imagem da campanha MUde O Mundo
por si ao menos por SI.


É fato que a base de nossa saúde está na alimentação e que uma dieta rica em verduras, legumes e frutas é quase uma garantia de uma boa qualidade de vida. As dúvidas começam a surgir quando, na era do agrotóxico, questionamos a procedência desses alimentos e o “modo artificial” como foram produzidos. Infelizmente, hoje vale tudo em nome do aumento da produtividade e do lucro. Com isso, surgem as perguntas: será que quando comemos uma verdura, por exemplo, estamos realmente comendo algo natural? Qual é a segurança que temos para afirmar que uma salada crua é mais natural e saudável que legumes cozidos?

A resposta a esse tipo de indagação vem com o que chamamos de alimentos orgânicos __ aqueles cultivados sem fertilizantes químicos ou agrotóxicos. “Os orgânicos dizem respeito a qualidade do processamento do alimento, incluindo a qualidade do solo onde ele é plantado. São alimentos obtidos de maneira simples, pela ação da própria natureza”, explica a nutricionista Tina Isidoro, que trabalha há mais de 20 anos com alimentação natural no Rio de Janeiro.
A grande vantagem dos alimentos orgânicos passa pela questão de serem mais enriquecidos de nutrientes, uma vez que a terra utilizada no seu cultivo é fértil e natural e não há nenhuma interferência de substâncias químicas no processo. “São alimentos vivos, com mais massa alimentar, ou seja, com mais nutrientes em sua composição”, completa a nutricionista. O nome orgânico é explicado justamente por essa idéia: eles interagem e são muito melhor absorvidos pelo nosso organismo.

Desintoxicação
Além de verduras, legumes e frutas, o modelo orgânico também pode ser adaptado a carnes e laticínios. A diferença aí se estabelece pela maneira como se cria o animal (rações adequadas e mais naturais, tratamentos a base de homeopatia, não confinamentos etc). Assim, o cardápio diário pode (e deve) ser totalmente orgânico. Entre os inúmeros benefícios da alimentação orgânica está o processo de purificação do organismo que ela proporciona. Essa desintoxicação leva a uma melhora de problemas hepáticos e gastrointestinais, os mais comuns gerados pelas químicas e outras substâncias artificiais contidas nos alimentos normais.
Os males para a saúde causados pela artificialização da alimentação já são motivos de protestos e mudanças de atitudes principalmente em países da Europa. Na Alemanha, é definido por lei que todo produto industrializado para a criança tem que ser 100% orgânico. Na Inglaterra, 70% da população já procuram e consomem alimentos orgânicos. No Brasil, a produção de orgânicos, que começou com cooperativas de consumidores em 1978, está crescendo e hoje já é possível achar esses alimentos naturais em alguns supermercados e feiras (ver mais detalhes no quadro da página 5). Atualmente os orgânicos são cultivados em 100 mil hectares no país.
Apesar de ainda custarem mais caro que os alimentos normais, a tendência é que o preço dos orgânicos abaixe, uma vez que a produção e o consumo assistem a um aumento progressivo. As pessoas estão ficando cada vez mais conscientes da importância de se exigir a qualidade do alimento que estão ingerindo e dando para seus filhos. A agropecuária orgânica vem justamente atender essa necessidade, promovendo a possibilidade de o homem voltar a usufruir da natureza na produção de alimentos. “Os alimentos orgânicos têm a ver com hábitos simples, que acabamos perdendo na corrida da modernidade em detrimento da nossa saúde e do meio ambiente”, conclui Tina.

A filosofia dos orgânicos

Todo alimento orgânico é muito mais que um produto sem agrotóxicos. A “filosofia orgânica” nasce do resultado de um sistema de produção agrícola que busca manejar de forma equilibrada o solo e demais recursos naturais (água, plantas, animais, insetos, etc). O objetivo é buscar a conservação do meio ambiente mantendo a harmonia desses elementos entre si e com os seres humanos.
De forma geral, a agricultura orgânica é baseadas em três idéias. São elas:
• Cultivo natural: é proibido o uso de agrotóxicos, adubos químicos e artificiais e conservantes no processo de produção.
• Equilíbrio ecológico: A produção respeita o equilíbrio microbiológico do solo. O processo fica mais sustentável, não degradando a biodiversidade.
• Respeito ao homem: o trabalhador tem que ser respeitado (leis trabalhistas, ganho por produtividade, treinamento profissional e qualidade de vida).
Para se obter um alimento verdadeiramente orgânico, é necessário administrar conhecimentos de diversas ciências (agronomia, ecologia, sociologia, economia, entre outras). Assim, o agricultor, através de um trabalho harmonizado com a natureza, tem condições de oferecer ao consumidor alimentos que promovam não apenas a saúde deste último, mas também do planeta em que vivemos.

Os orgânicos no Brasil e no mundo

Atualmente, o Brasil ocupa a 34ª posição no mundo no ranking dos países exportadores de produtos orgânicos, sendo que na última década foi assistido um crescimento de 50% nas vendas por ano. Calcula-se que já estão sendo cultivados perto de 100 mil hectares em cerca de 4.500 unidades de produção orgânica espalhadas por todo o país. A maior parte da produção brasileira (cerca de 70%) encontra-se nos estados do Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo. Apesar da tendência de crescimento, o Brasil ainda perde para a vizinha Argentina em termos de área certificada para o cultivo de orgânicos na América do Sul.
No ano 2000 a área de agricultura orgânica na Argentina já chegava a 380 mil hectares. Deste total, 28% eram destinados à produção vegetal e 72%, à produção animal. Estima-se que o volume exportado foi de aproximadamente 10 mil toneladas, sendo a maior parte dos produtos vendida para Europa, Estados Unidos e Japão.
O Japão hoje é considerado um dos maiores mercados mundiais para produtos orgânicos. Devido à pequena dimensão territorial, a produção orgânica própria é pequena, principalmente se comparada à variedade e volume de produtos que importam, como cereais, legumes, frutas frescas, carne bovina, frango, queijo, entre outros.

Nos Estados Unidos, os produtores orgânicos certificados produzem principalmente cereais, com destaque para soja e trigo. O desenvolvimento da agricultura orgânica americana tem sido comparado ao da Europa, assistindo um volume de venda próximo dos U$5 bilhões anuais. Segundo dados da Organic Farming Research Fundation (Fundação de Pesquisa em Agricultura Orgânica), aproximadamente 1% do mercado americano de alimentos é proveniente de métodos orgânicos de produção. Em 1996, isso representava em torno de U$ 3,5 bilhões em vendas. Nos últimos anos a venda de produtos orgânicos vem crescendo em até 20% ao ano.
Na Europa o desenvolvimento da agricultura orgânica e do consumo de produtos sem agrotóxico cresce a passos largos.
Em 1998, a Inglaterra já tinha 275 mil hectares dedicados à produção orgânica. Apesar da extensa área, a produção ainda é insuficiente para atender a demanda dos consumidores, fato que faz com que 70% dos alimentos orgânicos sejam importados.
Nos últimos anos a França assistiu um aumento de 28% no número de unidades para produção orgânica e de 16% na área certificada para a agricultura sem agrotóxicos. O país obteve destaque devido ao aumento significativo de algumas produções animais na linha orgânica, sobretudo o frango orgânico, que teve taxas de crescimento de 135% nos últimos dois anos.
Na Itália, num período de três anos, o numero de agricultores passou de 4 mil para 15 mil, assim como o número de companhias processadoras: de 47 para 506. Em 1998, a produção italiana já era de cerca de US$ 2 bilhões. Atualmente a Itália é o primeiro país da Europa em termos de área total com agricultura orgânica, seguido pela Alemanha.
A Alemanha foi o primeiro país do mundo a criar um organismo para inspeção e controle da produção orgânica e hoje o mercado alemão de produtos orgânicos é considerado um dos mais importantes da Europa. Em 1998, foram contabilizadas cerca de 6.786 unidades de produção (1,9% de sua área total).
A Áustria é o país da União Européia com o maior percentual de agricultores orgânicos (8%) e também possui a maior área orgânica proporcionalmente cultivada (10,1%). Em algumas regiões do país, como Salzbourg e Tyrol, 50% dos agricultores já são orgânicos.

Certificação dos orgânicos: garantia de qualidade

A garantia dos alimentos orgânicos se dá através de selos assinados por associações de agricultores orgânicos, que inspecionam as etapas da produção e a qualidade dos alimentos com muito rigor. Os selos proporcionam ao consumidor saber se um determinado alimento é ou não orgânico. Visualmente, não é tão fácil identificar os orgânicos, uma vez que as diferenças consistem em serem geralmente menores e “menos bonitos” que alguns alimentos encontrados em feiras e supermercados.
Além de assegurar ao consumidor que está comprando um alimento isento de contaminação química, o selo de certificação garante que o produto é resultado de uma agricultura capaz de preservar o ambiente natural, a qualidade nutricional e biológica dos alimentos e a qualidade de vida para quem vive no campo e nas cidades. Ou seja, o selo de “orgânico” é o símbolo de processos mais ecológicos de se plantar, cultivar e colher alimentos.
Entre as vantagens da certificação está o fato de tornar a produção orgânica tecnicamente mais eficiente, a medida em que exige planejamento e documentação criteriosos por parte do produtor. Outra vantagem é a promoção e a divulgação dos princípios norteadores da Agricultura Orgânica na sociedade, colaborando, assim, para o crescimento do interesse pelo consumo de alimentos orgânicos.

Por fim, é importante ressaltar que a certificação é uma poderosa estratégia de construção da cidadania, pois mobiliza tanto as comunidades regionais como a sociedade para a produção e consumo de alimentos mais saudáveis e harmonizados com as atuais necessidades de conservação do meio ambiente.
No Brasil os principais selos de certificação são: AAO - Associação dos Agricultores Orgânicos, ABIO - Associação dos Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro, ANC - Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região, Coolmeia Cooperativa Ecológica, IBD - Instituto Biodinâmico e MOA - Fundação Mokiti Okada.
Conheça a seguir algumas organizações de referência nas quais é possível obter mais informações sobre pontos de vendas de alimentos orgânicos:


Glossário dos orgânicos

Fontes: “Dicionário do Agrônomo”, Lúcia Helena S.D.Goulart, Editora Rígel, 1999; Equipe do Conteúdo do “Planeta Orgânico"

Adubação: diferença entre a exigência da cultura e a reserva do solo, que é reposta através dos adubos.
Adubação Verde: prática agrícola de se incorporar ao solo a massa verde ou vegetal, não decomposta, de plantas cultivadas, com a finalidade de se enriquecer o solo com matéria orgânica e elementos minerais.
Adubação Orgânica: aquela feita com adubos orgânicos (qualquer resíduo animal ou vegetal), havendo incorporação de matéria orgânica ao solo.
Adubação Química: aquela feita com adubos químicos, havendo incorporação de sais minerais ao solo.
Agricultura Orgânica: sistema de produção agropecuário que promove a interação entre biodiversidade, ciclos biológicos das espécies vegetais e animais e atividade biológica do solo. Baseia-se no uso mínimo de produtos externos à propriedade e no manejo de práticas que restauram, mantêm e promovem a harmonia ecológica do sistema.
Agroecossistema: conjunto compreendido pelo ecossistema natural e ambientes modificados pelo ser humano, contido na propriedade rural, no qual ocorrem complexas relações entre seres vivos e elementos naturais (rochas, solos, água, ar, reservas minerais).
Agrofloresta: sistema agrícola no qual se incluem árvores em agroecossistemas de produção vegetal ou animal.
Biofertilizante: fertilizante orgânico repleto de microorganismos (por isso é considerado um fertilizante “vivo”) usado no solo ou diretamente sobre a planta. Feito a partir de matéria orgânica fermentada (estercos, ou partes de plantas), que pode ou não ser enriquecido com alguns minerais como calcário e cinzas.
Biomassa: qualquer matéria de origem vegetal, utilizada como fonte de energia, para adubação verde ou para proteger o solo da erosão.

Cobertura Viva: cultura de cobertura do solo que é plantada juntamente com as culturas principais durante a estação de cultivo.
Cobertura Morta: restos culturais, adubos verdes picados e outros materiais vegetais secos ou em processo decomposição que são depositados sobre o solo, para fins de proteção contra erosão e fornecimento de matéria orgânica.
Composto: adubo orgânico que provém de todos os resíduos da propriedade agrícola, reunidos e preparados sob condições controladas para melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.
Compostagem: processo de preparação do composto.
Diversidade Ecológica (ou Biodiversidade): grau de heterogeneidade da composição de espécies, potencial genético, estrutura espacial vertical e horizontal, estruturas de alimentação, funcionamento ecológico e mudança no tempo, de um ecossistema ou agroecossistema.
Ecossistema: sistema funcional de relações complementares entre organismos vivos e seu ambiente, em uma determinada área física.
Efeito Residual: tempo em que um agrotóxico permanece nas plantas, nos alimentos, no solo, no ar e na água, podendo trazer complicações de ordem toxicológicas.
Esterco: excremento animal usado como fertilizante. O mesmo que estrume.
Horticultura: parte da agricultura que trata da exploração racional das plantas e se divide nos ramos da olericultura, floricultura, fruticultura e paisagismo.
Húmus: produto final resultante da decomposição da matéria orgânica de origem animal ou vegetal, que se caracteriza por uma massa escura, amorfa, heterogênea, insolúvel, possuindo carga negativa e alta capacidade de absorver àgua. O mesmo que humo.
Índice de produtividade: medida da quantidade de biomassa contida no produto colhido com relação à quantidade total de biomassa viva presente no restante do sistema.
Macronutrientes: nutrientes que as plantas necessitam em grandes quantidades (100Kg/hectare/ano), como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre.
Micronutriente: nutrientes que as plantas necessitam em pequenas quantidades (10Kg/hectare/ano): boro, zinco, ferro, molibidênio, cloro, manganês e cobre.
Planta Perene: que vive mais de três anos, florescendo ou não todos os anos. O mesmo que perene.
Planta Semiperene: que vive mais de dois anos e menos de três anos, como a cana-de-açúcar.
Produtividade do solo: capacidade de um solo de produzir espécies vegetais de interesse econômico para o ser humano, sob um sistema específico de manejo.

Quebra-ventos: conjunto de árvores plantadas perpendicularmente à direção do vento predominante com o objetivo de proteger a cultura e o solo da ação dos ventos.
Resiliência: capacidade genética dos organismos de resistirem a tensões ou fatores limitadores do ambiente.
Sistêmico: que diz respeito a um sistema orgânico; que atinge vários componentes de um sistema ou estrutura. O mesmo que holismo.
Toxicidade Aguda: poder letal de uma substância ou composto químico, seus derivados ou metabólitos.
Toxicidade Crônica: toxicidade cumulativa de uma substância ou produto químico.
Tratos Culturais: operações feitas nas culturas, tais como: adubação, rotação de culturas, manejo da matéria orgânica, entre outros.
Vulnerabilidade Genética: suscetibilidade de culturas geneticamente uniformes a danos ou destruições causados por surtos de uma doença ou praga, por condições climáticas mais drásticas do que o normal ou por alterações climáticas.

Artigo retirado de :http://www.institutoaqualung.com.br/info_ali44.html

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